O mundo da astronomia entrou em parafuso na última quarta (20) com as evidências mais fortes até hoje de que existe um nono planeta
orbitando o mesmo Sol que nós, pequenos terráqueos (lembre-se: desde
2006, Plutão, nosso "ex-nono planeta", é considerado apenas um
planeta-anão). Mas o que será feito a partir de agora? Você pode ajudar
na caçada ao suposto corpo celeste?
Partiu telescópio
Os indícios do novo corpo celeste foram revelados por um dos mais
respeitados astrônomos do mundo, Mike Brown -- sim, o mesmo que derrubou
Plutão à condição de "anão". Isso pode gerar uma corrida a telescópios
por uma razão principal: a suposta órbita já foi divulgada, o que
facilita bastante a "caçada". E, como disse ao UOL o
astrônomo Cássio Leandro Barbosa, do Observatório da Univap
(Universidade do Vale do Paraíba), descobrir um planeta daria muito
"prestígio" para o pesquisador e o observatório.
"E eu?"
Você que adora observar o céu pode até sonhar em descobrir o planeta,
mas a chance de conseguir é perto de nula. A distância do objeto para
Terra -- e para o Sol -- é tamanha que a luminosidade do corpo celeste é
muito fraca. Além disso, o movimento dele é, em comparação com os
planetas mais próximos, bastante lento -- leva entre 10 mil e 20 mil
anos terrestres para dar uma volta no Sol, enquanto Netuno (repetindo: o
mais distante até agora) completa o ciclo "apenas" em 164 anos
terrestres. Sendo assim, poucos telescópios têm a capacidade de rastrear
o planeta -- é bem possível até que, se realmente ele existir, já tenha
sido visto, mas descartado.
No vídeo da pesquisa, Mike Brown
convida o mundo inteiro a buscar o objeto -- contudo, esse convite é
mais para observar outros objetos que sejam influenciados pelo planeta,
já que ele em si só pode ser observado pelos equipamentos gigantes. É
possível ainda aproveitar telescópios que ficam inutilizados por
períodos de tempo (como o de pesquisas que só durem entre faixas
horárias específicas) para ajudar na "caça".
Passadinha no Atacama ou no Havaí
Na opinião do astrônomo Gustavo Rojas, da Universidade Federal de São
Carlos, apenas os telescópios gigantes (a partir de 8 metros de
diâmetro) seriam capazes de rastrear o objeto. Em especial, o Subaru,
que está situado no Havaí e é controlado pelo Japão. Ou algum do Alma (Atacama Large Millimeter Array),
situado no deserto do Atacama, no Chile. Mesmo estas grandes máquinas
têm problemas: o campo de visão do céu delas é muito pequeno.
Os
pesquisadores, contudo, têm que elaborar um projeto para ter a
autorização para utilizar o telescópio -- especificando o período do
uso, qual região vai observar etc. Em meio a isso, concorrerão com
outros astrônomos não menos importantes que também vão querer utilizar o
objeto com outros fins.
Se a sorte não ajudar, os cientistas
acreditam que o mistério poderá ser resolvido quando o maior telescópio
do mundo terminar de ser construído, no Chile -- a inauguração está
prevista para 2021. "Ele fará uma imagem profunda do céu por semana. Ao
invés de esperar anos para varrer a área inteira, ele faz isso em
semanas", diz Rojas, que é representante no Brasil do Observatório
Europeu do Sul, um dos donos do ALMA.
É um planeta? É uma estrela? É o super-homem?
As equipes e observatórios envolvidos na busca pelo novo planeta terão
que criar um programa de computador que rastreie toda a órbita sugerida
pelo estudo divulgado na última quarta. A varredura pode, obviamente,
levar anos até algo ser encontrado. Os pesquisadores rastrearão toda a
área e verificarão pontos luminosos, tirando fotos. Depois de algumas
semanas (ou meses), farão imagens do mesmo local e verificarão qual foi o
movimento dos corpos celestes. É a maneira clássica da astronomia: você
observa uma mesma região do céu e vê o movimento de astros. Aí é onde a
sorte entra: podem achar rapidamente, ou não.
A grande questão
para quem não está na área da astronomia é: como uma pessoa sabe que
aquela luzinha lá longe é um planeta? Isso tem a ver com alguns fatores,
como a movimentação. "Estrela não vai ter esse deslocamento tão grande e
também é possível verificar pela característica da órbita. Já sabem o
deslocamento dele, não dá para confundir com uma estrela. Dá para
confundir com outros objetos, mas já sabem para onde apontar", explica
Rojas, ao UOL.
Pronto, é um planeta. Podemos mudar os livros de escola?
Não. Não basta apenas um observador encontrar o planeta: é necessária,
segundo Gustavo Rojas, a confirmação de fontes independentes. Enquanto
outra pessoa não achar o novo planeta, nada feito.
E o nome dele, quem dá?
A honra é dada para quem descobre, de acordo com Cássio Leandro
Barbosa. Se o próprio Mike Brown achar o corpo celeste, maravilha: ele
pode dar a nomenclatura da mãe, do cachorro, do time de futebol, o que
quiser - mas provavelmente só será aceito o nome de deuses da
antiguidade, como em outros planetas. Agora, se outra pessoa encontrar o
objeto, ambos terão que entrar em acordo para definir como ele vai ser
chamado.