Um consórcio internacional de cientistas anunciou a primeira detecção de ondas gravitacionais, um fenômeno previsto
pelo físico Albert Einstein há exatos cem anos, mas que nunca havia sido
observado.
"Nós detectamos ondas gravitacionais. Nós conseguimos", afirmou David
Reitze, diretor do projeto, em uma entrevista coletiva na manhã desta
quinta, em Washington.
O que os pesquisadores do projeto Ligo (Laser Interferometer
Gravitational-Wave Observatory) encontraram essencialmente foram
"distorções no espaço e no tempo" causadas por um par de objetos com
massas enormes interagindo entre si.
Neste caso específico, os cientistas acreditam que o evento observado
seja fruto da interação entre dois enormes buracos negros.
O QUE FOI DESCOBERTO?
Observando a interação de dois buracos negros (objetos do universo com
gravidade extremamente forte) os pesquisadores registraram, pela
primeira vez, as ondas de distorçãoprovocadas pela força gravitacional
no espaço e no tempo
Quando elaborou sua teoria da Relatividade Geral, Einstein afirmou que a
gravidade é uma força de atração que age distorcendo o espaço e o tempo
-- espaço e tempo, em sua concepção são uma coisa só. Quando há uma
interação de objetos muito maciços, para os quais a força da gravidade é
muito grande, eles produzem ondas que se propagam no espaço.
As ondas gravitacionais estão para a gravidade assim como a luz, uma
onda eletromagnética, está para o magnetismo e a eletricidade, forças
capazes de gerar luminosidade.
Oscilação sutil
A detecção de ondas gravitacionais, porém, requer aparelhagem capaz de perceber oscilações muito mais sutis do que a luz. O Ligo consiste em dois enormes detectores de cerca de 4 km de extensão nos estados de Washington e Louisiana, nos EUA, operando conjuntamente.
A detecção de ondas gravitacionais, porém, requer aparelhagem capaz de perceber oscilações muito mais sutis do que a luz. O Ligo consiste em dois enormes detectores de cerca de 4 km de extensão nos estados de Washington e Louisiana, nos EUA, operando conjuntamente.
O Ligo em si começou a funcionar em 2002, depois de outros experimentos
iniciais, e sua sensibilidade vem sendo aprimorada desde então. Só com
um aprimoramento maior realizado no ano passado, porém, foi possível
detectar um primeiro evento.
A colisão de buracos negros registrada pelo projeto foi detectada em 14
de setembro. Cada um dos dois objetos pesava cerca de 30 vezes a massa
do Sol, e o fenômeno ocorreu a 1,3 bilhão de anos-luz.
Os buracos negros em colisão detectados pelo experimento são
essencialmente estrelas mortas que implodiram dentro de sua própria
força gravitacional. Esses objetos são escuros porque têm uma força de
atração de gravidade tão grande que capturam até a luz.
ENTENDA AS ONDAS GRAVITACIONAIS EM 7 PASSOS
1) Na teoria da Relatividade de Einstein, o espaço e o tempo são uma coisa só: o espaço-tempo
2) O espaço-tempo, para a Relatividade, não é uma entidade fixa, mas maleável
3) Quando um astro de grande massa oscila, sua gravidade cria ondas no espaço-tempo, da mesma forma que um barco chacoalhando cria ondas na água
4) Essas ondas gravitacionais, porém, são minúsculas, com milionésimos de milionésimos de milímetros
5) O Ligo, um experimento engenhoso nos EUA, foi capaz de capturar pela primeira vez a oscilação de ondas gravitacionais
6) A fonte das ondas detectadas pelo experimento eram dois buracos negros que giravam em torno um do outro e colidiram
2) O espaço-tempo, para a Relatividade, não é uma entidade fixa, mas maleável
3) Quando um astro de grande massa oscila, sua gravidade cria ondas no espaço-tempo, da mesma forma que um barco chacoalhando cria ondas na água
4) Essas ondas gravitacionais, porém, são minúsculas, com milionésimos de milionésimos de milímetros
5) O Ligo, um experimento engenhoso nos EUA, foi capaz de capturar pela primeira vez a oscilação de ondas gravitacionais
6) A fonte das ondas detectadas pelo experimento eram dois buracos negros que giravam em torno um do outro e colidiram
7) A descoberta é importante porque consolida a teoria de Einstein e
porque astrônomos podem agora estudar alguns fenômenos que não são
visíveis pela luz
Sinal e ruído
Mesmo com toda a parafernália experimental, separar o sinal de ruídos que afetavam o experimento não era algo simples. O físico Riccardo Sturani, da Unesp, trabalhou por oito anos com a equipe responsável por filtrar os sinais do Ligo.
Mesmo com toda a parafernália experimental, separar o sinal de ruídos que afetavam o experimento não era algo simples. O físico Riccardo Sturani, da Unesp, trabalhou por oito anos com a equipe responsável por filtrar os sinais do Ligo.
"A detecção em 14 de setembro foi inesperada porque o Ligo já tinha
tomado dados no passado e tinha acabado de recomeçar os trabalhos",
afirmou. "Mesmo com uma sensibilidade 3 vezes melhor, a previsão teórica
sobre as fontes dos sinais de ondas gravitacionais não era muito
promissora."
Segundo Sturani, outros grandes experimentos similares ao Ligo devem
começar a operar nos próximos anos, e isso permitirá aos cientistas
fazer coisas como localizar fontes das ondas gravitacionais com mais
precisão.
Astrônomos não foram capazes de localizar ainda onde ocorreu a colisão
de buracos negros detectada pelo experimento, porque para isso seriam
necessários três grandes interferômetros, e o Ligo só possui dois. A
única coisa que se sabe é que o evento detectado ocorreu no céu do
hemisfério sul.